sábado, 24 de outubro de 2015

João Sacristão






“… João Afonso Lopes (o "João Sacristão"), homem bem informado e testemunha ocular, afirma que a última vez que a festa foi feita foi em 1928 – tinha ele 14 anos – e que não voltou a fazer-se até que, em 1945, os sacristães da cidade, liderados por ele, retomaram a festa, a 15 de Setembro, presidida pelo padre Nabais, dos Padres do Coração de Maria, organizando eles a festa até 1947. Em 1948 entregaram-na aos pescadores que a têm organizado até aos dias de hoje”.

“ … em 1945, os quatro sacristãos da cidade, dos quais se destacou o saudoso João "Sacristão", também ele de origem varina, retomam a organização da Festa da Tróia, retornando para sempre à Paróquia de São Sebastião. Já em 1948, a organização é entregue aos pescadores, os varinos de São Sebastião que ainda hoje a detêm, sendo eles os principais romeiros desta Festa.” (in http://igrejas-setubal.pt/capela-de-nossa-senhora-do-rosario-de-troia)



O “Ti João” se fosse vivo faria este ano 100 anos (http://troineiro.blogspot.pt/2014/08/o-ti-joao-se-fosse-vivo-faria-este-ano.html)

Se perguntarem aos habitantes de Setúbal quem foi João Maria Afonso Lopes, provavelmente a maior parte deles diziam não conhecer. Se se dissesse que até foi atribuído o seu nome a uma rua da nossa cidade, lá para os lados da Azeda, muitos deles encolheriam os ombros.

Mas se formos para as bandas das Fontainhas, Bairro Santos Nicolau e grande parte da zona nascente da cidade e perguntarmos se alguma vez ouviram falar do “João Sacristão” provavelmente ouviríamos como resposta: “ele é meu padrinho”. De facto, o “ti João” como eu e muitos dos escuteiros gostávamos de o tratar apadrinhou centenas, ou milhares de crianças que foram batizadas na Paróquia de São Sebastião.

Tratava-se de um homem dinâmico e empreendedor, de estrutura franzina, mas muito rijo, que dedicou grande parte da sua vida à paróquia de S. Sebastião, em Setúbal.

A quase todos os seus 8 filhos proporcionou a educação e formação adequada para que pudessem singrar na vida.

Residindo em Setúbal nas instalações anexas à Igreja de S. Sebastião, onde hoje funcionam os agrupamentos de escuteiros terrestres e marítimos a certa altura decidiu fazer a sua própria casa e foi ele que deitou mãos à obra e com toda a família edificaram uma casa junto à “barreira” posteriormente demolida para ser construída a avenida onde hoje assistimos à popular Festanima”.

Se hoje temos a Festa da Troia a ele se deve, tal como se deve a este dinâmico homem o nicho a Nossa Senhora do Cais, à beira-rio e a capela no bairro do Faralhão, de entre outras iniciativas.

Se o “ti João” fosse vivo faria este ano 100 anos e acreditem que são muitos os setubalenses que guardam uma grata recordação deste homem simples que soube ajudar os mais necessitados como ninguém e que foi um exemplo de um excelente chefe de família.

Rui Canas Gaspar



Textos autobiográficos



1.       História da Capela de Nossa Senhora de Fátima, Lugar de Santo Ovídio

Em mil novecentos e cinquenta no mês de Janeiro um pequeno grupo de moradores de Santo Ovídio, Faralhão, pediu ao Senhor Prior da Freguesia de São Sebastião Setúbal Padre José Maria Nunes. Esse Lugar estava a uma distância de nove quilómetros da Paróquia de São Sebastião, que lhes ajudasse a fazer uma pequena capela, porque já havia muitas crianças e pessoas de idade avançada, era muito longe para virem à missa ao domingo, não havia carreiras, só transportes das próprias e mais nada. É uma zona rural, nesta só viviam do trabalho do campo, são quase todas naturais de Proença-a-Nova. O prior com muitos afazeres do trabalho da Paróquia não podia, mas prometia. Em mil novecentos e cinquenta e um novamente esse grupo pede o mesmo sobre a capela no Santo Ovídio, Faralhão. Os trabalhos aumentavam na Paróquia e ele só único Padre não podia. Tinha muita vontade, mas dizia havia de se ver. Nessa altura andava muito doente. O sacristão foi sempre muito amigo do seu Prior e dos paroquianos. Ofereceu-se voluntário para essa obra. Pediu ao Senhor Prior Padre José Maria Nunes para agir e disse-lhe com a ajuda de Deus eu prometo-lhe a capela pronta se me der a liberdade. O Senhor Prior aceitou. No fim do ano de mil novecentos e cinquenta e um, o sacristão foi ao lugar de Santo Ovídio Faralhão pedir terreno. Foi oferecido terreno pelo morador mais pobre que lá vivia, seu nome João Farinhas. Não havia dinheiro, não havia nada. O sacristão foi ao sacrário onde está Jesus vivo. No sacrário disse-lhe tudo, ofereceu-se todo, a saúde, as forças, a coragem os sacrifícios, tudo o que viesse a acontecer e o resto tinha o Pai do Céu fazer. Em Janeiro de mil novecentos e cinquenta e dois deu princípio as despesas. A primeira oferta foi cinco escudos de uma pobre criada de servir moradora no mesmo lugar. Organizou a Comissão. Foram os seguintes: Aníbal Alves Farinha, José de Jesus Lourenço, Manuel de Jesus Lourenço, Manuel Martins Alves, Custódio Alves Martins, Alfredo Ribeiro, o sacristão João Maria Lopes. Mandou-se fazer blocos de cimento. Para a construção da capela trabalharam todas as pessoas, crianças, jovens, pessoas de idade já avançada. Os carros dos serviços deles carregavam areia, água. A pedra para os caboucos foi do mesmo lugar. Como os moradores nesse tempo eram muito pobres, a obra foi feita aos domingos. O dirigente da construção foi o pedreiro Manuel Paulino e José Paulino, moradores no mesmo lugar. Os homens que tinham feito de pedreiro faziam paredes. Ofertas. A Herdade da Mourisca ofereceu todas as madeiras em eucalipto para o telhado. As telhas foram oferecidas e também as portas em ferro pelo Senhor Olímpio Moreira dos Santos. Organizou-se no mesmo lugar no dia da festa um cortejo de oferendas que rendeu alguns mil escudos. Assim se foi arranjando o dinheiro para a obra. O Senhor António Gomes Gautier emprestou dez mil escudos. Foi o único dinheiro emprestado. Pediu-se esmolas em toda a freguesia. O Governo Civil deu sete mil escudos.

No dia 13 de Julho de 1952. Inauguração. Programa da festa o seguinte: às nove horas organizou-se a procissão com o andor de Nossa Senhora de Fátima. Oferecida a imagem por um grupo de Senhoras de Setúbal. Foram na procissão todo o povo cristão da freguesia, Irmãs da Casa de Santana, Irmãs Hospitaleiras, Irmãs da Apresentação de Maria, Escuteiros, Juventude rapazes e raparigas da Acção Católica da Paróquia, o Sr. Vigário Dr. Mário Raimundo de Carvalho que fez a bênção da Capela em representação do Senhor Cardeal Patriarca.

Chegou ao Lugar de Santo Ovídio Faralhão às onze e trinta horas. Deu-se princípio à celebração Eucarística. Foi celebrante o Prior Padre José Maria Nunes. No fim da festa houve almoço de confraternização com todos os que trabalharam para a construção da casa de Deus.

Assim terminou esta história e da capela dedicada a Nossa Senhora de Fátima em Santo Ovídio Faralhão. (“A História” e organizador das obras.)

Só tenho a dizer muito obrigado ao Pai do Céu por se ter servido deste seu servidor

João Maria Afonso Lopes





História da Capela de São José no Bairro Presidente Carmona, hoje Bairro Dr. Afonso Costa.

O Senhor Cardeal Patriarca D. Manuel Gonçalves Cerejeira mandou uma circular a todos os Párocos do Patriarcado para no mês de Outubro de mil novecentos e cinquenta e seis fazerem a consagração de todas as crianças das freguesias ao Imaculado Coração de Maria. O Prior da freguesia de São Sebastião, falando com o seu sacristão, pediu-lhe que fosse ver o local onde podiam concentrar as crianças de toda a freguesia de São Sebastião para daí organizar uma procissão com a imagem de Nossa Senhora de Fátima até à Paróquia. Então o sacristão foi pedir esta casa emprestada ao Senhor Saturnino António Gameiro, proprietário desta propriedade, e muito amigo do sacristão. Foi emprestada a casa. O Senhor disse que até lhe vendia a casa e terreno. Isso ficou na memória do sacristão que, mais tarde, foi uma realidade. No dia marcado, isto no mês de Outubro de mil novecentos e cinquenta e seis, fez-se a concentração das crianças neste mesmo lugar. Juntaram-se umas centenas de crianças de todas as Escolas da freguesia, desde de sete anos de idade aos catorze anos de idade. Organizou-se a procissão até à Paróquia de São Sebastião, com o andor de Nossa Senhora de Fátima. Chegada à freguesia, o Senhor Prior da freguesia Padre José Maria Nunes fez a consagração das crianças ao Imaculado Coração de Maria, como tinha pedido o Senhor Cardeal Patriarca. Passada aquela festa, esse sacristão pediu licença ao seu Prior para agir na compra da casa e terreno para a capela, onde pudesse ensinar a doutrina Palavra de Deus às crianças daquele Bairro, porque não havia nada naquela zona onde se pudesse ensinar a Palavra de Deus. Esse servidor da Igreja foi ter com o proprietário, Senhor Saturnino António Gameiro para lhe vender a casa e o terreno, custou cinquenta e seis mil escudos, casa e terreno, sendo a quinze escudos o metro quadrado. Essa mesma pessoa sacristão foi ter com algumas pessoas seus amigos pedir-lhes emprestado dinheiro para esse fim tomando ele sacristão a responsabilidade do dinheiro emprestado. Uns emprestaram mil escudos, outros quinhentos escudos, outros duzentos escudos, outros cem escudos. Um pescador pobre emprestou também dez mil escudos, um padeiro pobre emprestou também dez mil escudos. Graças a Deus, arranjou-se todo o dinheiro.

Fez-se a escritura a Paróquia de São Sebastião com o Senhor Prior presente Padre José Maria Nunes. Creio que foi no mês de Fevereiro de mil novecentos e cinquenta e sete e em dezanove do mês de Março do mesmo ano deu-se início à capela com o nome de São José. Foi a primeira festa que deu princípio, foi às dezassete horas com a presença de muitas pessoas do Bairro e da cidade. Terminou esta história. Só tenho a dizer um muito obrigado ao Pai do Céu por se ter servido deste seu servidor.

João Maria Afonso Lopes

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