Festa de Nossa
Senhora de Tróia (in http://www.alentejolitoral.pt/PortalRegional/Turismo/Patrimonio/Paginas/CapeladeNossaSenhoradeTroia.aspx)
“… João Afonso Lopes (o
"João Sacristão"), homem bem informado e testemunha ocular, afirma
que a última vez que a festa foi feita foi em 1928 – tinha ele 14 anos – e que
não voltou a fazer-se até que, em 1945, os sacristães da cidade, liderados por
ele, retomaram a festa, a 15 de Setembro, presidida pelo padre Nabais, dos
Padres do Coração de Maria, organizando eles a festa até 1947. Em 1948
entregaram-na aos pescadores que a têm organizado até aos dias de hoje”.
“ … em 1945, os quatro sacristãos
da cidade, dos quais se destacou o saudoso João "Sacristão", também
ele de origem varina, retomam a organização da Festa da Tróia, retornando para
sempre à Paróquia de São Sebastião. Já em 1948, a organização é entregue aos
pescadores, os varinos de São Sebastião que ainda hoje a detêm, sendo eles os
principais romeiros desta Festa.” (in http://igrejas-setubal.pt/capela-de-nossa-senhora-do-rosario-de-troia)
O “Ti João” se fosse
vivo faria este ano 100 anos (http://troineiro.blogspot.pt/2014/08/o-ti-joao-se-fosse-vivo-faria-este-ano.html)
Se perguntarem aos habitantes de
Setúbal quem foi João Maria Afonso Lopes, provavelmente a maior parte deles
diziam não conhecer. Se se dissesse que até foi atribuído o seu nome a uma rua
da nossa cidade, lá para os lados da Azeda, muitos deles encolheriam os ombros.
Mas se formos para as bandas das
Fontainhas, Bairro Santos Nicolau e grande parte da zona nascente da cidade e
perguntarmos se alguma vez ouviram falar do “João Sacristão” provavelmente
ouviríamos como resposta: “ele é meu padrinho”. De facto, o “ti João” como eu e
muitos dos escuteiros gostávamos de o tratar apadrinhou centenas, ou milhares
de crianças que foram batizadas na Paróquia de São Sebastião.
Tratava-se de um homem dinâmico e
empreendedor, de estrutura franzina, mas muito rijo, que dedicou grande parte
da sua vida à paróquia de S. Sebastião, em Setúbal.
A quase todos os seus 8 filhos
proporcionou a educação e formação adequada para que pudessem singrar na vida.
Residindo em Setúbal nas
instalações anexas à Igreja de S. Sebastião, onde hoje funcionam os
agrupamentos de escuteiros terrestres e marítimos a certa altura decidiu fazer
a sua própria casa e foi ele que deitou mãos à obra e com toda a família
edificaram uma casa junto à “barreira” posteriormente demolida para ser
construída a avenida onde hoje assistimos à popular Festanima”.
Se hoje temos a Festa da Troia a
ele se deve, tal como se deve a este dinâmico homem o nicho a Nossa Senhora do
Cais, à beira-rio e a capela no bairro do Faralhão, de entre outras
iniciativas.
Se o “ti João” fosse vivo faria
este ano 100 anos e acreditem que são muitos os setubalenses que guardam uma
grata recordação deste homem simples que soube ajudar os mais necessitados como
ninguém e que foi um exemplo de um excelente chefe de família.
Rui Canas Gaspar
Textos autobiográficos
1. História da Capela de Nossa Senhora de
Fátima, Lugar de Santo Ovídio
Em mil
novecentos e cinquenta no mês de Janeiro um pequeno grupo de moradores de Santo
Ovídio, Faralhão, pediu ao Senhor Prior da Freguesia de São Sebastião Setúbal
Padre José Maria Nunes. Esse Lugar estava a uma distância de nove quilómetros
da Paróquia de São Sebastião, que lhes ajudasse a fazer uma pequena capela,
porque já havia muitas crianças e pessoas de idade avançada, era muito longe
para virem à missa ao domingo, não havia carreiras, só transportes das próprias
e mais nada. É uma zona rural, nesta só viviam do trabalho do campo, são quase
todas naturais de Proença-a-Nova. O prior com muitos afazeres do trabalho da
Paróquia não podia, mas prometia. Em mil novecentos e cinquenta e um novamente
esse grupo pede o mesmo sobre a capela no Santo Ovídio, Faralhão. Os trabalhos
aumentavam na Paróquia e ele só único Padre não podia. Tinha muita vontade, mas
dizia havia de se ver. Nessa altura andava muito doente. O sacristão foi sempre
muito amigo do seu Prior e dos paroquianos. Ofereceu-se voluntário para essa
obra. Pediu ao Senhor Prior Padre José Maria Nunes para agir e disse-lhe com a
ajuda de Deus eu prometo-lhe a capela pronta se me der a liberdade. O Senhor
Prior aceitou. No fim do ano de mil novecentos e cinquenta e um, o sacristão
foi ao lugar de Santo Ovídio Faralhão pedir terreno. Foi oferecido terreno pelo
morador mais pobre que lá vivia, seu nome João Farinhas. Não havia dinheiro,
não havia nada. O sacristão foi ao sacrário onde está Jesus vivo. No sacrário
disse-lhe tudo, ofereceu-se todo, a saúde, as forças, a coragem os sacrifícios,
tudo o que viesse a acontecer e o resto tinha o Pai do Céu fazer. Em Janeiro de
mil novecentos e cinquenta e dois deu princípio as despesas. A primeira oferta
foi cinco escudos de uma pobre criada de servir moradora no mesmo lugar.
Organizou a Comissão. Foram os seguintes: Aníbal Alves Farinha, José de Jesus
Lourenço, Manuel de Jesus Lourenço, Manuel Martins Alves, Custódio Alves
Martins, Alfredo Ribeiro, o sacristão João Maria Lopes. Mandou-se fazer blocos
de cimento. Para a construção da capela trabalharam todas as pessoas, crianças,
jovens, pessoas de idade já avançada. Os carros dos serviços deles carregavam
areia, água. A pedra para os caboucos foi do mesmo lugar. Como os moradores
nesse tempo eram muito pobres, a obra foi feita aos domingos. O dirigente da
construção foi o pedreiro Manuel Paulino e José Paulino, moradores no mesmo
lugar. Os homens que tinham feito de pedreiro faziam paredes. Ofertas. A Herdade
da Mourisca ofereceu todas as madeiras em eucalipto para o telhado. As telhas
foram oferecidas e também as portas em ferro pelo Senhor Olímpio Moreira dos
Santos. Organizou-se no mesmo lugar no dia da festa um cortejo de oferendas que
rendeu alguns mil escudos. Assim se foi arranjando o dinheiro para a obra. O
Senhor António Gomes Gautier emprestou dez mil escudos. Foi o único dinheiro
emprestado. Pediu-se esmolas em toda a freguesia. O Governo Civil deu sete mil
escudos.
No dia 13 de Julho de 1952. Inauguração.
Programa da festa o seguinte: às nove horas organizou-se a procissão com o
andor de Nossa Senhora de Fátima. Oferecida a imagem por um grupo de Senhoras
de Setúbal. Foram na procissão todo o povo cristão da freguesia, Irmãs da Casa
de Santana, Irmãs Hospitaleiras, Irmãs da Apresentação de Maria, Escuteiros,
Juventude rapazes e raparigas da Acção Católica da Paróquia, o Sr. Vigário Dr.
Mário Raimundo de Carvalho que fez a bênção da Capela em representação do
Senhor Cardeal Patriarca.
Chegou ao Lugar de Santo Ovídio
Faralhão às onze e trinta horas. Deu-se princípio à celebração Eucarística. Foi
celebrante o Prior Padre José Maria Nunes. No fim da festa houve almoço de
confraternização com todos os que trabalharam para a construção da casa de
Deus.
Assim terminou esta história e da
capela dedicada a Nossa Senhora de Fátima em Santo Ovídio Faralhão. (“A
História” e organizador das obras.)
Só tenho a dizer muito obrigado
ao Pai do Céu por se ter servido deste seu servidor
João Maria Afonso
Lopes
História da Capela de São José no
Bairro Presidente Carmona, hoje Bairro Dr. Afonso Costa.
O Senhor
Cardeal Patriarca D. Manuel Gonçalves Cerejeira mandou uma circular a todos os
Párocos do Patriarcado para no mês de Outubro de mil novecentos e cinquenta e
seis fazerem a consagração de todas as crianças das freguesias ao Imaculado
Coração de Maria. O Prior da freguesia de São Sebastião, falando com o seu
sacristão, pediu-lhe que fosse ver o local onde podiam concentrar as crianças
de toda a freguesia de São Sebastião para daí organizar uma procissão com a
imagem de Nossa Senhora de Fátima até à Paróquia. Então o sacristão foi pedir
esta casa emprestada ao Senhor Saturnino António Gameiro, proprietário desta
propriedade, e muito amigo do sacristão. Foi emprestada a casa. O Senhor disse
que até lhe vendia a casa e terreno. Isso ficou na memória do sacristão que,
mais tarde, foi uma realidade. No dia marcado, isto no mês de Outubro de mil
novecentos e cinquenta e seis, fez-se a concentração das crianças neste mesmo
lugar. Juntaram-se umas centenas de crianças de todas as Escolas da freguesia,
desde de sete anos de idade aos catorze anos de idade. Organizou-se a procissão
até à Paróquia de São Sebastião, com o andor de Nossa Senhora de Fátima.
Chegada à freguesia, o Senhor Prior da freguesia Padre José Maria Nunes fez a
consagração das crianças ao Imaculado Coração de Maria, como tinha pedido o
Senhor Cardeal Patriarca. Passada aquela festa, esse sacristão pediu licença ao
seu Prior para agir na compra da casa e terreno para a capela, onde pudesse
ensinar a doutrina Palavra de Deus às crianças daquele Bairro, porque não havia
nada naquela zona onde se pudesse ensinar a Palavra de Deus. Esse servidor da
Igreja foi ter com o proprietário, Senhor Saturnino António Gameiro para lhe
vender a casa e o terreno, custou cinquenta e seis mil escudos, casa e terreno,
sendo a quinze escudos o metro quadrado. Essa mesma pessoa sacristão foi ter
com algumas pessoas seus amigos pedir-lhes emprestado dinheiro para esse fim
tomando ele sacristão a responsabilidade do dinheiro emprestado. Uns
emprestaram mil escudos, outros quinhentos escudos, outros duzentos escudos,
outros cem escudos. Um pescador pobre emprestou também dez mil escudos, um
padeiro pobre emprestou também dez mil escudos. Graças a Deus, arranjou-se todo
o dinheiro.
Fez-se a
escritura a Paróquia de São Sebastião com o Senhor Prior presente Padre José
Maria Nunes. Creio que foi no mês de Fevereiro de mil novecentos e cinquenta e
sete e em dezanove do mês de Março do mesmo ano deu-se início à capela com o
nome de São José. Foi a primeira festa que deu princípio, foi às dezassete
horas com a presença de muitas pessoas do Bairro e da cidade. Terminou esta
história. Só tenho a dizer um muito obrigado ao Pai do Céu por se ter servido
deste seu servidor.
João Maria
Afonso Lopes
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