No dia 16 de Fevereiro de 1935, em Lisboa, na freguesia de Penha de
França, nasce uma criança do sexo feminino, com o nome muito especial e com um
significado muito forte, FLORINDA DEOLINDA DE SOUSA,
Flor+linda, Deo+linda, significa «FLOR LINDA DE DEUS». A mãe não podia
ter escolhido outro nome, porque esta flor tinha sido escolhida por Deus para
ser sua serva, se não vejamos.
A pequenina flor logo aos cinco anos de idade fica órfã de mãe e o pai
abandonou-a. Sem lar e sem família, foi para o Orfanato de Santa Isabel em
Lisboa, sem carinho de pai e de mãe, com a sua deficiência, começa o seu
calvário. Deste orfanato transita para a casa de recolhimento da D. Sílvia
Cardoso, na Amadora, aqui recebeu o baptismo, esteve até aos oito anos.
Dia do Baptismo de uma sua catequizanda. |
Novamente muda de “casa“, faz a caminhada para o Albergue da Mitra.
Todas estas passagens são feitas sem o calor humano de uma família, sem o beijo
de um pai e de uma mãe, sem poder brincar como deveria ser, mas esta pequenina
flor de aparência frágil, consegue ultrapassar com sorrisos, agradecendo ao seu
Pai e à sua Mãe Nossa Senhora. Novamente muda de casa, vai para casa de uma
tia, mas a sua frágil saúde atira-a para uma cama do Hospital da Misericórdia
de Lisboa, daqui para o Sanatório da Parede, sendo submetida a várias operações
para poder andar. Aos dezoito anos de idade, fez a 4ª classe por iniciativa
própria, porque até aqui não pode iniciar os estudos, mas a vontade de estudar
era tão grande, contra tudo e contra todos, conseguiu completar o secundário.
Esta flor delicada já com 21 anos, parte para Angola, lá consegue o
primeiro trabalho no Colégio das Irmãs Doroteias, dando aulas no primário e
preparatório e ao mesmo tempo também estudava.
Neste colégio começa a dedicação da sua vida ao Pai, fazendo trabalhos
para a igreja, fazendo parte das diversas irmandades, fez-se 3ª Carmelita, bem
como noutras ordens.
Casa-se em 1973, com Lionilde Luis, viveu feliz até ao ano de 1982,
ficando viúva.
Voltando ao ano de 1975, dá-se a independência de Angola, vem para
Portugal com o seu marido, ingressou na paróquia de S. Paulo, sendo membro
activo dos movimentos bíblicos e outras actividades.
Mais tarde, vem viver para Palmela nos anos 83/84, aqui fixou a sua
vida, casando-se com João Jacinto no ano de 1986, sendo novamente feliz.
Continuou sempre com muita força, com muito amor e a palavra não, não existia
no seu vocabulário, mas sempre o Sim.
Aqui, começa o trabalho na paróquia da Quinta do Anjo, onde assume
diversas actividades, fazendo formação cristã de jovens e adultos, pertenceu ao
movimento da Mensagem de Fátima, faz o secretariado geral da paróquia e ao
mesmo tempo ajuda a comunidade do Bairro Alentejano durante 24 anos, formando
muitos jovens e adultos na caminhada cristã.
Mais tarde, a comunidade de Santo António de Aires, vem pedir-lhe o seu
auxílio e mais uma vez não consegue dizer não.
Nesta comunidade assumiu as catequeses, formações de crismas, formações
de adultos para o baptismo, bem como em Pegões, durante 8/9 anos.
Entretanto nesta caminhada, ainda há lugar para tirar o curso de
Teologia = estudos de Deus=, e como esta flor delicada era insaciável, não
ficou por aqui, inicia outro curso = Antropologia Filosófica =, este curso é
interrompido porque no dia 3 de Novembro de 2014, o Pai vem busca-la para a
companhia dele.
É o resumo possível de uma lição de vida que esta Grande Senhora nos
deixou, onde a falta de amor, o brincar quando somos crianças, a incapacidade,
a dor, o abandono, o não ter casa, família, andar de orfanato em orfanato,
nunca foram barreiras para ser uma vencedora, com uma formação humana
extraordinária, com uma doçura e com muito amor para dar, sempre com um sorriso
nos lábios e com um sim no coração.
A flor delicada fez um percurso de vida dedicada a Deus e ao próximo.
25º Aniversário do Matrimónio |
Não posso deixar de incluir a despedida que nos deixou escrita no seu
computador pessoal, não pode ficar só para alguns, porque ela, ao escreve-la
seria para conhecimento geral, aqui vai a sua transcrição:
UMA DAS MINHAS HIEROFANIAS
Recordo-me com saudade, dos tempos em que vivia
em Angola, numa terra situada no interior da Província da Huila, Jamba, assim
se chamava essa terra.
Era costume, afastar-me do povoado e ir junto
de uma lagoa que ficava um pouco afastada da Jamba e, aí, apreciar o
maravilhoso pôr-do-sol. Era deslumbrante, porque o Sol descia pelo morro e, ia
espraiar-se nas águas da lagoa, dando-lhes tons de oiro e de prata.
Era o meu lugar predilecto! Sozinha, ouvindo
o chilreio dos pássaros que recolhiam aos seus ninhos, não podia deixar de
pensar no Mistério que, dentro do meu peito, ardia como Sol que desaparecia por
detrás do morro e me trazia uma serenidade, como água da lagoa que se deixava “
abraçar “ pelo Sol, num adeus de despedida.
Assim me preparo para ir para o Pai, pois
está a chegar o fim da jornada, levo todos no coração, as minhas comunidades,
os meus grupos de catequese, os meus Padres assistentes e em especial o meu
JOÃO.
Adeus a todos que fique convosco a paz e o
amor de Deus.
Deolinda
Com esta
despedida só posso dizer Obrigada minha Grande Amiga do fundo coração e um até
Sempre.
Odete
Rodrigues
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