domingo, 1 de fevereiro de 2015

ESCOLHIDA POR DEUS PARA SER SUA SERVA



 No dia 16 de Fevereiro de 1935, em Lisboa, na freguesia de Penha de França, nasce uma criança do sexo feminino, com o nome muito especial e com um significado muito forte, FLORINDA DEOLINDA DE SOUSA,
Flor+linda, Deo+linda, significa «FLOR LINDA DE DEUS». A mãe não podia ter escolhido outro nome, porque esta flor tinha sido escolhida por Deus para ser sua serva, se não vejamos.
A pequenina flor logo aos cinco anos de idade fica órfã de mãe e o pai abandonou-a. Sem lar e sem família, foi para o Orfanato de Santa Isabel em Lisboa, sem carinho de pai e de mãe, com a sua deficiência, começa o seu calvário. Deste orfanato transita para a casa de recolhimento da D. Sílvia Cardoso, na Amadora, aqui recebeu o baptismo, esteve até aos oito anos.
Dia do Baptismo de uma sua catequizanda.
Novamente muda de “casa“, faz a caminhada para o Albergue da Mitra. Todas estas passagens são feitas sem o calor humano de uma família, sem o beijo de um pai e de uma mãe, sem poder brincar como deveria ser, mas esta pequenina flor de aparência frágil, consegue ultrapassar com sorrisos, agradecendo ao seu Pai e à sua Mãe Nossa Senhora. Novamente muda de casa, vai para casa de uma tia, mas a sua frágil saúde atira-a para uma cama do Hospital da Misericórdia de Lisboa, daqui para o Sanatório da Parede, sendo submetida a várias operações para poder andar. Aos dezoito anos de idade, fez a 4ª classe por iniciativa própria, porque até aqui não pode iniciar os estudos, mas a vontade de estudar era tão grande, contra tudo e contra todos, conseguiu completar o secundário.
Esta flor delicada já com 21 anos, parte para Angola, lá consegue o primeiro trabalho no Colégio das Irmãs Doroteias, dando aulas no primário e preparatório e ao mesmo tempo também estudava.
Neste colégio começa a dedicação da sua vida ao Pai, fazendo trabalhos para a igreja, fazendo parte das diversas irmandades, fez-se 3ª Carmelita, bem como noutras ordens.
Casa-se em 1973, com Lionilde Luis, viveu feliz até ao ano de 1982, ficando viúva.
Voltando ao ano de 1975, dá-se a independência de Angola, vem para Portugal com o seu marido, ingressou na paróquia de S. Paulo, sendo membro activo dos movimentos bíblicos e outras actividades.
Mais tarde, vem viver para Palmela nos anos 83/84, aqui fixou a sua vida, casando-se com João Jacinto no ano de 1986, sendo novamente feliz. Continuou sempre com muita força, com muito amor e a palavra não, não existia no seu vocabulário, mas sempre o Sim.
Aqui, começa o trabalho na paróquia da Quinta do Anjo, onde assume diversas actividades, fazendo formação cristã de jovens e adultos, pertenceu ao movimento da Mensagem de Fátima, faz o secretariado geral da paróquia e ao mesmo tempo ajuda a comunidade do Bairro Alentejano durante 24 anos, formando muitos jovens e adultos na caminhada cristã.
Mais tarde, a comunidade de Santo António de Aires, vem pedir-lhe o seu auxílio e mais uma vez não consegue dizer não.
Nesta comunidade assumiu as catequeses, formações de crismas, formações de adultos para o baptismo, bem como em Pegões, durante 8/9 anos.
Entretanto nesta caminhada, ainda há lugar para tirar o curso de Teologia = estudos de Deus=, e como esta flor delicada era insaciável, não ficou por aqui, inicia outro curso = Antropologia Filosófica =, este curso é interrompido porque no dia 3 de Novembro de 2014, o Pai vem busca-la para a companhia dele.
É o resumo possível de uma lição de vida que esta Grande Senhora nos deixou, onde a falta de amor, o brincar quando somos crianças, a incapacidade, a dor, o abandono, o não ter casa, família, andar de orfanato em orfanato, nunca foram barreiras para ser uma vencedora, com uma formação humana extraordinária, com uma doçura e com muito amor para dar, sempre com um sorriso nos lábios e com um sim no coração.
A flor delicada fez um percurso de vida dedicada a Deus e ao próximo.

25º Aniversário do Matrimónio
  Não posso deixar de incluir a despedida que nos deixou escrita no seu computador pessoal, não pode ficar só para alguns, porque ela, ao escreve-la seria para conhecimento geral, aqui vai a sua transcrição:

UMA DAS MINHAS HIEROFANIAS
Recordo-me com saudade, dos tempos em que vivia em Angola, numa terra situada no interior da Província da Huila, Jamba, assim se chamava essa terra.
Era costume, afastar-me do povoado e ir junto de uma lagoa que ficava um pouco afastada da Jamba e, aí, apreciar o maravilhoso pôr-do-sol. Era deslumbrante, porque o Sol descia pelo morro e, ia espraiar-se nas águas da lagoa, dando-lhes tons de oiro e de prata.
Era o meu lugar predilecto! Sozinha, ouvindo o chilreio dos pássaros que recolhiam aos seus ninhos, não podia deixar de pensar no Mistério que, dentro do meu peito, ardia como Sol que desaparecia por detrás do morro e me trazia uma serenidade, como água da lagoa que se deixava “ abraçar “ pelo Sol, num adeus de despedida.
Assim me preparo para ir para o Pai, pois está a chegar o fim da jornada, levo todos no coração, as minhas comunidades, os meus grupos de catequese, os meus Padres assistentes e em especial o meu JOÃO.
Adeus a todos que fique convosco a paz e o amor de Deus.
Deolinda

Com esta despedida só posso dizer Obrigada minha Grande Amiga do fundo coração e um até Sempre.

Odete Rodrigues

Sem comentários:

Enviar um comentário