Fazer memória sobre os 40 anos da
diocese de Setúbal, para mim, é falar sobre as pessoas que a marcaram, durante
este período.
Eu tinha 10 anos,
quando foi criada a diocese (16 de outubro de 1975) e foram muitos os cristãos,
felizmente, que conviveram comigo e foram exemplos de vida cristã durante estes
anos, fora e dentro do espaço diocesano.
Ir. Matilde Morgado |
A minha reflexão levou-me, em
primeiro lugar, a fazer memória da Irmã Matilde Morgado, nascida em 6 de setembro
de 1933. A irmã foi, durante 14 anos, a diretora diocesana de Secretariado da
Catequese da Infância e Adolescência (de 1990 até 2004). Atualmente,
encontra-se na Casa Provincial das Franciscanas Missionárias de Maria, em
Lisboa, congregação à qual pertence.
Conheci-a quando eu tinha 25
anos. Convivi com ela durante quase todos esses anos…
Fiz o Curso Básico de Catequese e,
a partir desse momento, chamou-me para colaborar na formação dos catequistas da
diocese. Ainda hoje me pergunto porquê!!!
Acompanhei muito do trabalho realizado
por esta mulher de fibra. Quem a via a caminhar com o seu chapéu de palha não
adivinhava os problemas de saúde que ela tinha, desde muito nova, mas que nunca
foram motivo para desarmar nas dificuldades. A sua força pessoal e espiritual era
enorme e transmitia-a aos que com ela colaboravam.
Colocava um carinho e
um amor especiais naquilo que fazia, mas também muita exigência consigo e com
os que com ela colaboravam .
As coisas tinham mesmo que
funcionar e o melhor possível ... quantas vezes, os que com ela colaboravam,
estiveram reunidos, pela noite fora, para prepararem adequadamente as
atividades, os cursos, as formações, os retiros, …
Corria a diocese de ponta a
ponta, reunindo com os catequistas e párocos, dando formação e auxiliando nas
questões que necessitavam de resolução, propondo soluções concretas.
Implementou o funcionamento das
equipas vicariais de catequese … e, para melhor funcionarem, por vezes,
participava nessas reuniões. No entanto, deixava nas mãos dos responsáveis,
padres e catequistas, a dinamização das equipas vicariais.
Uma mulher de garra que enfrentou,
por vezes, algumas situações de desconforto para conseguir responder ao pedido
que o senhor bispo lhe tinha feito e ela tinha aceite.
Quando, em 2004, deixou de ser a
diretora do secretariado, deixou um legado evangelicional muito grande … os
catequistas tinham crescido na fé, através das múltiplas atividades formativas
pedagógicas, catequéticas, espirituais, biblicas que ela planeou/implementou,
tornando-os assim catequistas mais bem preparados para trabalharem ao serviço
da Igreja Local e fazer crescer os irmãos na fé e no amor a Jesus Cristo
Só para recordar, houve anos em
que, no Dia Diocesano do Catequistas, chegaram a estar presentes mais de 400 catequistas
no salão da Anunciada. Nas Jornadas de Adolescentes, normalmete, realizando-se,
cada ano, numa vigararia diferente, com atividades diversificadas e
motivadoras, havia uma grande adesão por parte dos catequizandos/adolescentes e
catequistas.
Pe. Norberto Lino |
O pe. Norberto Lino, jesuita, surgiu
na minha vida quando eu andava no seminário e tinha uns 12 anos. Quando vinha a
casa, eu acompanhava-o na vida paroquial, acolitando nas celebrações
eucarísticas, presenciando/vivenciando muitas das suas tarefas, atitudes,
comportamentos e ajudando no que era necessário. Agradeço a Deus a sua presença
na minha vida, pois aprendi muito com este homem simples, mas, ao mesmo tempo,
muito culto.
O testemunho do trabalho que
realizou e da entrega à Evangelização numa paróquia, inicialmente, tão pouco
catequizada/evangelizada, levou a que muita gente, aos poucos e poucos, se
fosse aproximando da Igreja.
O seu espírito de partilha fez
com que fosse entregando, a leigos comprometidos, muitos dos trabalhos que
deveriam e poderiam ser realizados por eles, exigindo-lhes, no entanto, que
prestassem contas do que iam fazendo. Assim, foi criando cristãos responsáveis
e empenhados em Igreja. Isso permitiu-lhe dinamizar e desenvolver as
comunidades de Corroios, Miratejo e Vale de Milhaços.
Não só criou uma Igreja humanizada,
feita de cristãos empenhados, comprometidos, com formação religiosa e
espiritual, fruto da criação e dinamização de grupos de reflexão e ação, mas
também ampliou a igreja paroquial de Corroios e construiu as Igrejas das duas
novas comunidades que iam surgiram: Miratejo e Vale de Milhaços, sempre com
muito apoio dos seus paroquianos.
Foi este o homem que me
acompanhou (ou melhor dizendo, que eu acompanhei, ao longo de alguns anos), um
homem que se preocupava imenso com as pessoas e as ajudava quando elas
precisavam a nível pessoal, económico, espiritual e social.
Para mim, este homem foi (é) um
exemplo de amor e dedicação ao Evangelho e de inspiração para os seus
paroquianos. O seu empenhamento foi notável no crescimento deste pequeno Reino
de Deus na freguesia de Corroios.
São homens e mulheres como estes
que fazem crescer o Reino de Deus.
É por isso que devemos
recordá-los para que outros possam também saber que há grandes homens e mulheres,
ainda hoje em dia, ao serviço de Jesus Cristo e que vivem de forma simples, mesmo
ao nosso lado.
Artur Barros
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